2007/03/15

Lodeiro – Aguiar de Sousa

Na década de 80 já as nossas Associações de defesa do ambiente tinham como uma das frentes de batalha lutar contra o avanço de espécies infestantes. Na altura ainda não se falava em trangénicos, mas a principal ameaça provinha da eucaliptização do país. As indústrias de celulose desenvolviam sucessivas castas de eucaliptos e a expansão desta monocultura avançava por todo o lado. Ainda me lembro bem da carga brutal da GNR montada em cavalos, sobre os voluntários da Quercus que tentavam impedir a eucaliptização da serra da Aboboreira.
Estas infestantes, eucaliptos e acácias, mesmo sem as plantações das celuloses, progridem facilmente. Dir-se-ia que renascem das cinzas. Os incêndios que se multiplicaram em Portugal ajudaram à exterminação das outras espécies ficando apenas as infestantes. É o caso típico do sul do concelho de Paredes, nas zonas florestais de Aguiar de Sousa, Recarei e Sobreira, e que se prolongam pelos concelhos vizinhos de Valongo, Gondomar e Penafiel.
Face a isto, a título pessoal, resolvi encetar uma luta contra as infestantes. Os meus pais tinham várias propriedades florestais que herdaram em Aguiar de Sousa. Uma delas, que apelidamos de Lodeiro, fica encravada entre a estrada nacional 322-2 e o Rio Sousa, num local próximo da Senhora do Salto. É muito íngreme e termina num extenso lameiro, que outrora eram campos de cultivo de linho e de milho.
Resolvi fazer a intervenção neste local porque era muito bonito, ficava na margem do rio, e estava abandonado.
O local estava quase impenetrável pela densidade de mimosas. Algumas tinham troncos enormes. Pelo meio das mimosas encontravam-se eucaliptos. Em algumas áreas surgiam algumas espécies de arbustos autoctones, bem como alguns e carvalhos. A margem do rio tinha salgueiros e amieiros. Na parte de cima junto a um muro de suporte da estrada estavam enormes quantidades de lixo deixado por pessoas que o levavam em carros e depois o atiravam para ali, tranformando aquilo numa lixeira igual a milhares de outras que os portugueses foram criando por todo o Portugal.
Este era o cenário em 1986.
Começei por abater todas as mimosas. A lenha resultante foi para cavacos. Todo o resto de detritos florestais ficou acumulado numa zona que escolhi e ao fim destes anos todos está tranformada em solo.
De seguida foram abatidos todos os eucaliptos após venda dos mesmos a um negociante de madeira.
Os lameiros junto ao rio estavam cobertos por um silvado enorme. As silvas foram cortadas manualmente, e empilhadas no mesmo local onde estavam os outros restos florestais. Curiosidade: enquanto eu e o meu pai íamos cortando as silvas dois ou três piscos de peito ruivo acompanhavam-nos de perto esgravatando a terra que ia ficando livre de silvas.
De seguida foram plantados nestes campos choupos, plátanos e áceres. Também foram feitas nestes campos plantações de carvalhos cujo objectivo era serem posteriormente transplantados para o monte anexo. Este monte anexo sobe até à estrada, e tinha ficado deserto com o abate das infestantes.

(continua)